Torcedores do Botafogo aos poucos estão chegando em Montevidéu, local onde, até o momento, ocorrerá o jogo diante do Peñarol, pela partida de volta da semifinal da Copa Libertadores.
Por conta de toda a confusão que houve quarta-feira passada (23), na Praia do Pontal, região do Rio de Janeiro, alguns desses torcedores hospedados no Uruguai estão relatando maus tratos no país.
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Torcida intimidada
Na manhã desta terça, dois torcedores do Botafogo que estão no Uruguai decidiram passear pelo Mercado do Porto, uma zona turística e um dos locais preferidos por brasileiros que visitam a cidade.
Victor Depoli Malanquini e seu cunhado saíram de Vitória, no Espírito Santo, para acompanhar o Botafogo. Por tratar-se de um local turístico, Victor pensou que estaria seguro.
“Fomos dar uma volta no Mercado. Havia dois torcedores do Peñarol, sentados, com garrafas de vidro nas mãos. Eles gritaram: ‘Brasileiro, brasileiro?’. Talvez tenham escutado o nosso português. Dissemos que éramos argentinos e nos esquivamos. Por sorte, passou um táxi e logo entramos. Mas os dois torcedores do Peñarol continuaram nos seguindo e perguntaram ao taxista se éramos mesmo argentinos. Em seguida, começaram a socar os vidros do carro. O condutor arrancou para o nosso alívio. Está f***”, contou Victor.
Em foto publicada pelo torcedor é possível notar o vidro do táxi quebrado.
Os dois botafoguenses não vestiam camisa do clube ou qualquer coisa que caracterizasse eles como torcedores do time carioca.
“Foi tenso. Não dá para dar bobeira. Eles estão nas ruas”, relatou Vitor.
Ameaças de morte
Antônio Bento, torcedor do Botafogo, relatou problemas logo na chegada à Montevidéu. Na manhã da última segunda (28), durante a ida de avião para o país, um grupo de torcedores do Alvinegro cantava uma música no avião quando foi ameaçado. Um uruguaio, que se disse torcedor do Nacional, prometeu que os brasileiros não sairiam vivos do país.
“Já estamos aqui e não tem muito o que fazer. É um prejuízo enorme, absurdo, mas também estamos inseguros, não sabemos qual é a posição do clube. Estamos com medo de eles forçarem a barra para ter torcida, e as autoridades tirarem um pouco da culpa e alegarem que tinham avisado que não era para ir. Não sei se me sinto mais seguro não indo, e se vão garantir a segurança no estádio.” disse Antônio.
“Não esperava que fosse ir para esse nível de autoridades uruguaias pedirem para não ter torcida. A torcida do Botafogo não teve nenhum envolvimento no Rio, não tem nada que ligue uma coisa à outra. Não é uma vingança pessoal, mas virou uma briga entre dois países e está estourando em nós”, lamentou o torcedor alvinegro.
Racismo e ameaças
Um torcedor, que pediu para não ser identificado, viu seu celular ser invadido por mensagens ameaçadoras e racistas. Ele foi chamado de macaco. Uma das mensagens perguntava se ele havia trazido colete à prova de balas porque, segundo a mensagem, “já se morreu um, hoje vai morrer outro”.
“Eu estou meio desanimado, fui insultado pra p*** e ouvi ameaças que, por mais que eu ache que sejam da boca pra fora, bate aquele ‘e se for verdade?’. Nada direcionado diretamente para mim, mas mandei isso em um grupo de amigos que estão vindo, e um até desistiu de vir.”, cita o torcedor, que viajou com seu pai, de 61 anos.
Até no aeroporto
O torcedor Gustavo Chagas relatou que, enquanto aguardava para desembarcar em Montevidéu, dois homens provocaram os brasileiros.
“Ele disse: ‘Respeita que aqui é o Uruguai e tem que se comportar’. Falou que a gente não sabe se comportar e ainda prometeu vingança: ‘Vocês começaram a violência lá e estamos começando aqui'”, conta Gustavo.
Insegurança
De acordo com outro torcedor, que também não quis se identificar, a insegurança é real para assistir ao duelo contra o Peñarol.
“O nível de segurança está muito difícil, evitando falar alto em português. Nem trouxemos camisa do Botafogo para sair nas ruas. Mesmo se liberarem, me sinto inseguro de ir.” disse o torcedor.
“Quando começaram as confusões, depois de ameaça de que não seríamos bem recebidos, começou a bater o desespero. Se criou um ambiente hostil, o que é normal, mas dessa vez está sendo bem difícil. Passar o que a gente está passando nunca aconteceu. O maior prejuízo vai ser psicológico, estar dentro de um país que não é nosso e não estar seguro… Quero ter tranquilidade, não quero voltar para o Brasil (pretende manter a viagem até sexta, como planejado), mas quero estar aqui seguro.” ele completou.
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