Pedrinho elucida assuntos ligados ao Vasco em entrevista coletiva

Presidente passa quase duas horas em comunicação oficial com a imprensa

Durante a tarde dessa quinta-feira (14), o presidente Pedrinho, do Vasco da Gama, fez uma entrevista coletiva com diversos jornalistas na qual elucidou temas pertinentes ao noticiário do clube carioca.

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Nessa, que foi sua quarta coletiva desde que se tornou presidente do Vasco da Gama, a terceira desde que assumiu o controle da SAF do clube, Pedrinho falou sobre os mais variados temas. Com duas horas e meia de duração, a janela para a imprensa foi, definitivamente, proveitosa.

O tema mais pertinente, sem dúvidas, é a revenda da SAF, antes majoritariamente controlada pela 777 Partners, empresa de investimentos norte-americana que hoje vive um imbróglio judicial por conta de problemas fiscais e financeiro.

Sobre a temática, se existem possíveis compradores e algum acordo encaminhado, Pedrinho falou ostensivamente na coletiva.

“Enquanto eu for presidente do Vasco, a minha intenção vai ser vender a SAF. A minha intenção (com ênfase) é vender. Vender é outro processo. Não posso ficar sentado esperando um investidor, porque tenho contas a pagar e preciso fazer com que o clube ande. Tenho dívidas, tenho compromissos e preciso fazer uma reestruturação financeira. O torcedor tem todo direito de nunca mais querer ouvir a palavra reestruturação, porque ela foi dita milhões de vezes e nunca foi feito nada. A medida cautelar é o início desse processo para que o Vasco seja autossuficiente. Isso não tem nada a ver com não querer vender a SAF. Eu preciso fazer com que o clube consiga pagar os salários.” disse Pedrinho.

Num outro momento, voltou a tocar no assunto, dizendo.

“A associação não vai gerir o futebol se virar SAF. Isso é uma narrativa, vocês têm entendimento e têm que começar a entender o que é a história do clube. Por que eu falo sobre intenção de vender? Porque eu posso não encontrar um investidor. Aí eu vou ser cobrado porque falei que vou vender. Quando eu falo que tenho intenção de vender, é porque eu quero vender. Eu vou conseguir? Vou ter um investidor? A gente está no mercado, atende todo mundo, algumas coisas são muito superficiais. A gente nunca vai pedir para o associativo ser majoritário. Primeiro porque a gente não tem esse desejo e, segundo, porque isso é uma maluquice. Ninguém vai investir milhões para outro mandar. Minha intenção é proteger a instituição com cláusulas de proteção.”

Sobre a atual tramitação pela venda, Pedrinho detalhou.

“Existem alguns investidores, e eu tenho que tomar cuidado quando falo porque as pessoas acham que são negociações avançadas. Existem alguns e existem NDAs (sigla em inglês para acordos de confidencialidade) assinados desse início de conversa, que eu não vou chamar nem de negociação. Por meio desse acordo de confidencialidade, não posso falar quem são os investidores. O que posso falar é que tem muito mais de um mês. Há conversas com mais de um investidor que são muito iniciais.”

O presidente do Vasco ainda detalhou um pouco mais sobre uma situação que estava encaminhada pelo acerto com um possível comprador.

“Tem um com quem assinamos acordo de confidencialidade e nem começamos a conversar. A conversa inicial é muito mais para você passar um diagnóstico, por isso há um acordo de confidencialidade, os números do clube. Essa conversa de conhecimento do que está acontecendo com o clube às vezes não consegue ser nem no primeiro dia, vão ser dois, três encontros só para mostrar a realidade. Se isso avançar, vai para o segundo passo e começa a construir. Já houve investidores que estavam muito dentro (a favor do negócio) e não estão mais. Não por qualquer empecilho da gestão ou exigência. Simplesmente saíram. Não posso falar quem são os investidores pela questão do acordo de confidencialidade.

Critérios para a venda da SAF

Pedrinho revelou critérios para a revenda da SAF usando exemplos que ocorreram, de fato, com o Vasco. Um deles envolve o desgaste financeiro gerado pela relação entre o clube e a 777 Partners, antiga sócia majoritária da SAF.

“Tem alguns critérios óbvios para a gente alinhar com um investidor: credibilidade reconhecida, saúde financeira, planejamento esportivo financeiro com prazos para de cumprimento, estrutura de CT com prazo de cumprimento, porque a gente pode botar “gastar R$ 50 milhões no CT” e nunca gasta. A gente precisa ter garantias para proteger a instituição para não cometer o mesmo erro cometido com a 777. Na minha única conversa presencial com o Josh (Wander, sócio-majoritário da 777), pedi garantias do aporte de R$ 270 milhões, e ele disse que as garantias eram as próprias ações.”

CEO do Vasco, Carlos Amodeo falou sobre a arrecadação de receitas e como isso influencia no processo de escolha para a revenda da SAF também.

“Primeiro, temos que potencializar as receitas do Vasco, que vinham sendo subutilizadas e subaproveitadas. O Vasco tem um potencial gigantesco, por todo o engajamento da sua torcida, de geração de maior volume de receitas. Com isso, tão logo anunciamos a contratação do Coutinho, fizemos uma campanha importante de sócios em que o torcedor prontamente respondeu. A gente sai de um patamar na nossa visão inaceitável para o Vasco, de 32 mil sócios, para um de 65 mil, 70 mil sócios. Isso muda de forma bastante expressiva a nossa receita recorrente e mensal. Mais do que isso: um clube da grandeza do Vasco, com a presença nacional que nós temos, não pode se dar o luxo de ter o propriedades comerciais à disposição sem comercialização na metade da temporada.”

O profissional aproveitou para revisar um pouco do que já foi o impacto da diretoria atual na melhoria das condições financeiras do clube.

“Nós trouxemos quatro novos patrocinadores, três já anunciados, um em vias de ser anunciado. E essas receitas de patrocínio também estão fazendo frente a uma nova geração de recursos para o clube, que tem permitido ao longo dos últimos meses que a gente tenha tido sucesso no sentido de cumprir todos os nossos compromissos em dia. Fora isso, temos um número enorme de iniciativas de reestruturação interna, de racionalização das nossas atividades, de redução das nossas despesas. Para que a gente possa também, com essas economias geradas, produzir um resultado melhor e ter disponibilidade de caixa pra enfrentar os nossos compromissos.

Pedrinho esclareceu sobre um boato de que teria imposto a condição de ser majoritário em ações numa futura revenda da SAF, assim com de uma eventual cláusula que forçaria o controle do futebol ao atual mandatário vascaíno numa nova situação organizacional entre sócios.

“Não, o investidor vai ser majoritário, até porque é difícil achar. Ninguém vai botar dinheiro para outro mandar, e nem é a minha intenção. Um ponto para ficar claro é que em nenhum momento, em cláusulas contratuais com um possível investidor, vai ter qualquer exigência de que eu participe do futebol. Zero. Essa chance é zero. Não vai ter nenhum empecilho relacionado ao futebol. Todas as cláusulas vão ser de proteção à instituição. Agora, eu voltando para o associativo em uma possível venda, (caso) um investidor queira que eu participe, vou usar a mesma frase que usei quando tinha a 777: ‘Estou aqui para contribuir e colaborar’. Se precisarem da minha ajuda, é assim que vai ser. Mas eu não quero nada do futebol, nada.

Questionado sobre o boato do interesse do grego Evangelos Marinakis na compra da SAF do Vasco, Pedrinho aproveitou o tema para atacar a influenciadores digitais que bebem da fonte dessa especulação e tumultuam o ambiente do clube.

“Surgem alguns personagens nas redes que são aproveitadores, oportunistas. Quando descobrem um possível investidor, soltam como se fosse ele trazendo um investidor. Com qual interesse? Isso é mentira. Nenhum investidor vai em qualquer personagem de rede social para chegar ao Vasco. É uma negociação muito séria, eles não precisam disso. Eles vêm até mim, por meio de um CEO, direto com o presidente do clube. Esses personagens tentam entrar no circuito para ter algum tipo de benefício. Seja no futuro se tornar candidato a vereador, seja algum interesse de ter comissão no negócio ou para dizer mesmo que quer ajudar o Vasco. E não é (assim). As pessoas usam o Vasco para se beneficiarem, e às vezes elas querem me atingir. Mas já falei isso 500 vezes: me atinja diretamente. Quando você fala com uma outra situação e colocando o sentimento do torcedor no meio, é sacanagem. Aí o torcedor tá ali, “viajando” com milhares de coisas. Ainda mais vendo o clube que virou SAF e está tendo sucesso, outro que ganhou título. E ficam brincando com o sentimento do torcedor.

Com o Vasco vivendo uma arbitragem judicial nesse momento, Pedrinho foi perguntado como esta pode ou não influenciar no processo de revenda da SAF.

“A gente tem que dar autorização para uma possível venda dos 31% da A-CAP. Os 39% estão na arbitragem. Toda possibilidade de uma venda dos 39%, a arbitragem tem que ter ciência disso. Ou seja, se tiver acordo de venda desses 39%, ele vai acontecer dentro da arbitragem. O que acontece? Quando tem a supervisão feita na arbitragem, isso aumenta a segurança do Vasco e do investidor. Porque o ambiente é controlado pela Justiça. Todo processo legal entre Vasco, A-CAP e 777 está supervisionado pela arbitragem, está blindado. Então não tem problema nenhum. As pessoas estão confundindo esse negócio de 31% de um, 39% na arbitragem… que isso pode gerar problema. Não, o que a gente fez com a liminar foi dar segurança jurídica. Estando na arbitragem, isso aumenta muito mais. O que a gente precisa é de um investidor. Só que as pessoas acham que é igual o mercado livre, não é assim, cara. Estamos falando de um clube de futebol que está com mais de R$ 1 bilhão de dívidas. Que aumentou sua dívida mesmo com aporte de R$ 310 milhões. Isso que as pessoas têm que entender, acham que é desculpa. Acham que estou aqui dando desculpinha, me lamentando. Não, eu sou perguntado e tenho que falar.

O presidente aproveitou a oportunidade para direcionar questionamentos a antigos personagens da política do Vasco que estiveram presentes no ato da venda da SAF para a 777 Partners em 2022.

“O que foi feito no Vasco, que abrimos uma comissão de investigação, e é bom citar: senhor (Jorge) Salgado, senhor Vitor Roma, senhor Luiz Mello, senhor Adriano Mendes, senhor Julio Brant. Esses caras têm que prestar conta. E eu falo de quem e o porquê. Se não acontecer uma investigação, vamos normalizar o que foi feito aqui. O cenário é esse. Pode melhorar? Pode, e muito! Eu vejo um cenário para o Vasco muito positivo. Se a gente zerar as dívidas, acabou o problema, p***! O problema é dívida, a gente estava enxugando gelo. A gente paga via RCE, o juros é maior do que quanto você paga. Tem que atacar a dívida com dinheiro novo. Essa vai ser uma exigência para o novo investidor, que ele ataque as dívidas.”

Numa fase final da entrevista, Pedrinho tranquilizou quanto à condição financeira do Vasco para a próxima temporada: “O Amodeo me garantiu que 2025 está tranquilo em termos de pagar todas as contas.

Influência das suas falas no desempenho

Pedrinho comentou sobre como acredita que suas falas, enquanto presidente, influenciam no momento vivido pelo Vasco dentro do campo.

“São assuntos delicados, eles ficam curiosos para saber o destino do clube e isso mexe com eles. Minha preocupação é sempre o campo, os atletas. A primeira conversa com eles foi quando a gente perdeu para o Flamengo por 6 a 1. O que falei foi: é muito difícil falar e vocês não vão acreditar, mas vamos brigar por uma vaga na Libertadores, desde que mudem a mentalidade. Porque até o contrato coloca vocês para baixo, com cláusulas de bônus se a gente não cair. Tira a grandeza do cara e do Vasco. Meu diálogo com eles é transparente. Meu receio é que esses assuntos mexam com o ambiente, se não eu falaria todos os dias com vocês. Quando caminhar para outro passo, eu mesmo vou falar para a gente debater. Só não vou ser oportunista. Por que não me cobraram para eu falar quando chegamos na semifinal? Poderíamos ter ido à final e temos a possibilidade de uma pré-Libertadores, que é o que quero colocar na cabeça deles.

Pedrinho recusou venda da SAF por R$600 milhões?

Questionado se houve alguma recusa de proposta de R$600 milhões pela venda da SAF do Vasco, Pedrinho, novamente, usou da oportunidade para descredibilizar influenciadores digitais que, por vontade ou não, geram tumulto no Vasco.

“O Vasco tem que evoluir em alguns aspectos. Se eu tivesse uma proposta de 600 milhões, por que eu recusaria? Esse personagem que falou isso vai ter que provar na Justiça, vai ter que ter um contrato da proposta de 600 milhões, pô. Eu não entendo como as pessoas acreditam nisso, como o torcedor vascaíno acredita em certos personagens e começam a debater isso. As pessoas não percebem? Esse cidadão estava na sede da Lagoa. Para ficar claro, eu sou o presidente do clube e responsável pelas sedes. Então qualquer coisa que aconteça ali, não importa se tem alguém fazendo de boa vontade, eu sou o responsável. OK? Ok. Não mexi nisso em respeito ao torcedor (campanha da vaquinha). Quando fui tomando conhecimento de tudo, descubro que lá temos um problema de elétrica que poderia pegar fogo na sede. Ué, e por que não pega esse dinheiro e faz a elétrica? Não, porque a pessoa falou que tem que colocar torneira de ouro porque isso que dá visibilidade. Depois essa pessoa se candidata a vereador.

Sobre esse influenciador em específico, cujo nome não foi mencionado diretamente por Pedrinho, o mandatário revelou outro bastidor num caso que tange ao processo de posse presidencial, feito ao começo do ano.

“Então eu tenho que tirar essa pessoa de lá, porque ali não é lugar das pessoas usarem o Vasco em benefício próprio. E eu vou fazer a intervenção, mando uma equipe para cuidar do problema da elétrica. Paralelo a isso, eu descubro que a sede da Lagoa não tem seguro, sendo que a gente tem ali quase R$ 12 milhões avaliados nos barcos. Porque os gestores antigos não pagavam. Paralelo a isso, eu descubro que um dos conselheiros, que hoje é uma grande voz nas redes sociais, que era de um grupo que cuidava do Calabouço, tinha “gato” no Calabouço. Para ficar claro, eu estou sem dinheiro, mas eu sou honesto, poderia fechar o olho, menos uma conta. Não, mandamos uma equipe lá e vamos pagar a conta. Vamos fazer um acordo do que estamos devendo e vamos pagar. É muita coisa, as pessoas dão credibilidade a pessoas que não são profissionais. Isso é muito grave, os torcedores acreditam nesses personagens.

O presidente, mais uma vez, elucidou a atual situação da revenda da SAF do Vasco.

“Não existe (proposta de investidor). Esse momento, eles estão tendo conhecimento do que é a situação do clube, financeira, estrutura, dívida, orçamento. Nem sei se nas primeiras conversas a gente mata tudo. Quando matar todo esse processo, ele ou eles provavelmente levam para uma euqipe para fazer toda avaliação do Vasco. Como já conversamos com um, ele já foi embora e vocês nem souberam. Não por algum empecilho, mas porque viram a situação e foi embora.

Troca de fornecedor de material esportivo do clube

Em respeito a uma especulação recente que daria conta da troca do fornecedor de material esportivo do Vasco, o CEO Carlos Amodeo elucidou sobre o atual cenário com a Kappa, atual fornecedora e sobre a possibilidade de que outra assuma esse posto.

“Quando tivemos o advento da medida liminar, e houve o início desse processo de gestão liderado pelo presidente Pedrinho, nos deparamos com uma situação absolutamente inusitada no futebol, que é estarmos na metade de 2024, termos um contrato de fornecimento de material que termina em 31 de dezembro e não haver negociação para extensão desse contrato ou um novo fornecedor. As fábricas precisam, por via de regra, de um ano, um ano e meio de antecedência para programar suas produções. Com base nisso, tivemos várias marcas globais com interesse no Vasco. A potencialidade, a força do clube é algo impressionante para quem chega de fora para entrar nesse processo de gestão. Entendemos que nesse momento era prudente que fizéssemos uma extensão do contrato da Kappa ao longo de 2025. Ela ficará conosco até 31 de dezembro de 2025 por uma questão de segurança e também abastecimento. Aí sim, em 2026, teremos ou uma nova extensão com a Kappa ou um novo fornecedor de material esportivo. Estamos trabalhando intensamente com a antecedência que o tema requer.”

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